O Busto de Napoleão
quarta-feira, dezembro 31, 2003
 
Não posso dizer que vi nascer a internet. O meu primeiro contacto com a net aconteceu quando comecei a estudar na universidade. Por essa altura o email já era usado com regularidade pela comunidade académica. Por outro lado, a web estava a dar os primeiros passos. Lembro-me das conversas sobre o gopher, a web e qual dos dois era melhor. A esta distância essa questão torna-se ridícula. A web era sem dúvida a melhor tecnologia e acabou por marcar a história da humanidade ao impulsionar a nova revolução social da globalização.

E a internet voltou a viver um momento especial nos últimos meses. Estou a falar do vídeo da Paris Hilton. Para quem está por fora um resumo. A Paris Hilton é filha de uma família muito rica dos EUA. É mediática. Existe um vídeo porno caseiro com ela a circular pela net. E, principalmente nos EUA mas um pouco por todo o mundo, não se fala noutra coisa. Em pouco tempo foram criadas milhares de páginas na net sobre este assunto. É o tema actual de muitos blogs (por exemplo este). Pelo puro voyerismo. Pela contaminação dos media tradicionais a um assunto que não devia ser notícia. Pelo poder da família, que ameaça as empresas de media com processos. E por fim, pelo poder da internet. Foi mais uma manifestação de força de um meio de comunicação que por ser muito descentralizado é incontrolável tanto para o bem como para o mal.

É mais um marco histórico da internet. Não é um caso novo, é até muito semelhante ao épico vídeo da Pamela Anderson. Mas superou este último em agressividade de criação e divulgação de conteúdos. De um assunto que é absolutamente desprovido de conteúdo.

É magnífico ver a dinâmica da web em funcionamento quando o assunto é do interesse de uma larga maioria. Dá para sonhar com coisas lindas ... ou, com os pés assentes na terra, dá para ter certeza que um novo vídeo vai aparecer por aí.

PS. Vários blogs aumentaram exponencialmente o número de leituras após terem feito referência a Paris Hilton (ou outros truques do google). Alguns até admitem que fizeram isso de propósito. Um deles por piada e com piada. Eu não faço isso. Oops, já fiz ;-)

sexta-feira, dezembro 26, 2003
 
Tenho vindo a reparar que o número de postais de natal recebidos profissionalmente é um bom indicador do poder dentro de uma empresa. O chefe tem uns vinte expostos na janela. Eu recebi um. Por outras palavras: não limpo latrinas, mas também não estou muito acima disso.
terça-feira, dezembro 23, 2003
 
Segundo uma notícia de hoje no úlltima hora do Público, a China prepara-se para, através de revisão constitucional, reconhecer o direito à propriedade privada e conceder um papel privilegiado aos empresários, dentro da política das três representações. Esta medida enquadrar-se-ia num espírito de "transição cuidadosa e gradual", que "passa pela candidatura da região de Macau a maior centro mundial do jogo, suplantando a mítica Las Vegas".

O pobre Mao já não devia dar uma volta tão grande lá onde está desde que viu um ex-discípulo seu a chefiar o governo mais à direita em Portugal desde o 25 de Abril.
 
O Governo anunciou hoje que o salário mínimo vai subir nove euros, ou 2,5 por cento. Aparentemente, o ministro justificou o valor somando a inflação prevista de 2% (e nem vou sequer discutir este número!) com 0,5%, metade da subida de 1% da produtividade, numa medida de repartição deste ganho; este "metade" seria cómico, se não fosse triste.

Façamos então umas contas muito rápidas, simplificando ao máximo a situação; utilizem-se preços constantes, ou seja, retire-se o factor inflação.

Imagine-se uma empresa com ganhos de 1000 euros, e custos de 500 em salários e 400 em outros custos, com resultado do exercício de 100. Um aumento de produtividade de 1%, e sempre simplificando, significaria que os ganhos passariam para 1010 euros; um aumento de 0,5% nos custos com pessoal significa que passariam para 502,5 euros. Mantendo-se os restantes custos em 400 (estamos a trabalhar em preços constantes), o resultado do exercício seria 107,5: um aumento de 7,5%!

É esta a repartição que Bagão Félix quer. Sem querer abusar do vocabulário esquerdista: 0,5% para o assalariado, 7,5% para o capital.

Tira-se daqui que ou o ministro é estúpido ou o ministro é mentiroso. Para bem da economia do país, esperemos que seja apenas mentiroso. O que não deixa de ser triste: na melhor das hipóteses, somos governados por mentirosos.

quinta-feira, dezembro 04, 2003
 
Desde da última reposição dos Monty Python no canal 2 que não via um texto cómico com tanta qualidade. O autor foi Donald Rumsfeld, Secretário de Estado para a Defesa dos EUA, que também interpretou o texto de forma suberba para gravação televisiva. Eis um excerto dessa maravilha:

"The message is that there are no knowns.. There are things we know that we know. There are known unknowns. That is to say there are things that we now know we don't know. But there are also unknown unknowns. There are things we don't know we don't know. So when we do the best we can and and we pull all this information together, and we then say well, that's basically what we see as the situation, that is really only the known knows and the know unknowns. And each year, we discover a few more of these unknown unknowns.... There's another way to phrase that and that is that the absence of evidence is not the evidence of absence."

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